O QUE É PSICOLOGIA DO ESPORTE?

Aspectos históricos e contemporâneos de uma ciência do esporte em ascensão no Brasil

 

A Psicologia é uma ciência que estuda, pesquisa e modifica o comportamento humano em diversas áreas do desenvolvimento. Para aprofundar o conhecimento e tornar a prática ainda mais eficaz em seus objetos de estudo, a Psicologia é fragmentada em áreas de atuação, com o objetivo de especializar os profissionais para atenderem demandas específicas dos clientes, encontradas nos mais variados ambientes. Analisando por essa perspectiva, podemos dizer que existem no Brasil psicólogos especialistas na área clínica, hospitalar, escolar, jurídica, organizacional (dentre outras) e, crescendo de forma exponencial, na área da Psicologia do Esporte.

Os primeiros passos da Psicologia do Esporte ocorreram na América do Norte, em 1895, com a pesquisa realizada por Norman Triplett, da Indiana University, que teve o objetivo de comparar o rendimento de 2.000 ciclistas que pedalaram sozinhos com o daqueles que pedalaram em grupo, medindo o tempo que os atletas levavam para terminar a prova. Verificou-se que o tempo para completar a prova era menor para os ciclistas que corriam em grupos ou em pares em comparação ao tempo dos atletas que pedalaram sozinhos, indicando o comportamento social “praticar a prova em grupo” como variável relevante no rendimento dos ciclistas estudados.

Em outro estudo com crianças pequenas, Triplett (1898) conduziu um experimento no qual os participantes eram divididos em dois grupos que tinham a tarefa de enrolar uma linha de pesca o mais rápido possível. Os participantes de um dos grupos realizavam a tarefa na presença de outra criança e os participantes do outro grupo enrolavam a linha isoladamente. Os resultados indicaram que as crianças enrolavam a linha mais rápido quando realizavam a tarefa na presença de outra criança, confirmando a importância da variável social verificada no estudo anterior.

As primeiras publicações de Psicologia do Esporte ocorreram entre 1918 e 1928. Nos EUA, em 1918, o psicólogo do esporte Coleman Roberts Griffith fundou o laboratório de pesquisas em atletas, na University of Illinois. Na Alemanha, em 1920, Carl Wien fundou um laboratório de pesquisas em Psicologia do Esporte em Berlim e, em 1936, foi um dos administradores das Olimpíadas de Berlim. Em 1925, na Rússia, Avksentii Puni & Piotr Rudicke iniciaram estudos de Psicologia do Esporte observando a motivação de alunos de Educação Física.

No Brasil, o trabalho aplicado pioneiro de Psicologia do Esporte ocorreu no futebol por meio da avaliação psicológica dos jogadores da seleção brasileira de 1958, realizada pelo psicólogo do esporte João Carvalhaes. Anteriormente ao trabalho com a seleção brasileira, no período de 1952 a 1957, Carvalhaes, conhecido como “João do Ringue” pelas atuações que realizava com atletas de Boxe, já publicava artigos em revistas debatendo temas que relacionam a Psicologia e o Esporte.

Uma polêmica ocorrida na jornada de Carvalhaes, que marcou a história da Psicologia do Esporte no Brasil, foi a recomendação do “corte” do jogador Garrincha da Copa do Mundo de 1958. Meses antes da competição, Carvalhaes foi chamado para participar das avaliações psicológicas dos jogadores convocados e, com a limitação da ciência, instrumentos e intervenções da época, diagnosticou Garrincha como “oligofrênico” (termo técnico que se refere a um atraso de desenvolvimento ou baixa inteligência). Tal notícia não foi bem recebida pela Diretoria e Comissão Técnica, as quais não procrastinaram o imediato desligamento do psicólogo da Copa do Mundo.

Desde então, a Psicologia do Esporte no Brasil caminha passo a passo, a cada década, acelerando seus números em publicações e presenças de psicólogos atuantes com atletas, equipes e instituições esportivas.

Um fato que ilustra a diferença na velocidade do processo da institucionalização da Psicologia do Esporte no Brasil é a comparação das datas em que os órgãos governamentais inseriram as definições da PE em seus estatutos. Em 1996, a APA (American Psychological Association) e a FEPSAC (European Federation of Sport Psychology) reconheceram e descreveram as relevâncias da PE em seus estatutos. No Brasil, essa resolução foi publicada somente onze anos depois, em 2007, pelo Conselho Federal de Psicologia. A Resolução CFP 013/2007, ao instituir o Título Profissional de Especialidade em Psicologia do Esporte, descreve que “a atuação do psicólogo do esporte está voltada tanto para o esporte de alto rendimento, quanto para a identificação de princípios e padrões de comportamentos de adultos e crianças participantes de atividades físicas”.

A inserção da PE nos estatutos é um avanço, de alguns que estão planejados para a evolução da Psicologia do Esporte no Brasil. Atualmente encontra-se dificuldades na formação e especialização de psicologia do esporte, uma vez que o acesso ao conhecimento científico dessa área é escasso e ainda pouco fomentado pelos agentes influenciadores e midiáticos do país. Por incrível que pareça, mesmo estando no ano de 2018, são poucas as universidades que ministram a disciplina de Psicologia do Esporte nos currículos básicos das Faculdades de Psicologia do Brasil.

Mesmo neste cenário, a ciência da Psicologia do Esporte está borbulhando no mercado do esporte brasileiro, cada vez mais utilizada e integrada nos centros de treinamento, grandes clubes e instituições esportivas, tanto nas áreas da iniciação (crianças) e formação (adolescentes) como, principalmente, no setor de alto rendimento (atletas profissionais).

Para os interessados na Psicologia do Esporte, existem alternativas e caminhos que podem ser utilizados para aprofundar-se na área no Brasil:

1) Conheça a carreira dos profissionais pioneiros na atuação contemporânea da Psicologia do Esporte no Brasil (por exemplo: Juliane Fecchio, Regina Brandão, Sâmia Hallage, Eduardo Cillo);

2) Esteja presente em Workshops, Seminários, Palestras, Cursos e Congressos que fomentam temas da Psicologia do Esporte no Brasil;

3) Viva uma experiência prática ou de estágio na Psicologia do Esporte, acompanhando o dia a dia e a rotina de psicólogos do esporte em ambientes esportivos;

4) Estabeleça o hábito de pesquisar, ler, discutir e replicar conteúdos de artigos internacionais que fazem uso da Psicologia do Esporte Aplicada;

5) Durante a sua experiência acadêmica, aproveite oportunidades que seu curso proporciona para realizar iniciações científicas, trabalhos em grupo, monografias, TCCs ou pesquisas que estejam relacionadas a área da Psicologia do Esporte;

Concluímos que a Psicologia Esportiva no Brasil é uma área de extrema importância para o desenvolvimento saudável das crianças, adolescentes e famílias brasileiras por meio do esporte, bem como para contribuir e agregar valor nas comissões técnicas, em função do alto rendimento na modalidade e do processo evolutivo saudável e de sucesso para os nossos atletas.


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